7.12.09

Angelim, O Indisciplinado

O Globo Esporte faz parte da minha infância, quando nas férias escolares acordava só na hora do programa já com a musiquinha tocando na hora do almoço. Ainda hoje assisto quando posso para ver as notícias do meu time, por mais que pela internet já saiba de tudo que noticiarão.

Hoje certa irritação me acometeu ao assistir a edição desta segunda-feira dia 7. O programa ganhou força com a presença de Ronaldo Angelim. Ao lado dos apresentadores Glenda Koslowski e Alex Escobar, foi notável a emoção do zagueiro ao se deparar com a surpresa que haviam preparado para ele: imagens de sua família no Ceará comemorando o título e homenageando o membro ilustre. Neste momento, Ronaldo Angelim chorou indisfarçadamente, e não era por menos que isso que a produção do programa devia esperar. Como é de praxe em outros programas, depois da emoção sempre deve vir um comentário daquele que se emocionou. Mas desta vez não.

Angelim estava tão sinceramente emocionado que não conseguia falar qualquer coisa, e, mais do que isso, não havia nada a dizer. Naquele momento, ao assistir os familiares, ele era choro, orgulho e memória. A apresentadora Glenda Koslowski deu a deixa para o comentário do emocionado: “A gente imagina o filme longo que passa na sua cabeça”, e acrescentou: “bem longo, não é?”. Ao dizer essa parte final ela estalou os dedos, num estalar que significou menos “tanto tempo…” e mais “vamos lá, fale algo, homem, conte sua história!”. Angelim baixou a cabeça e balbuciou um “Não consigo falar.”.

Restou então à apresentadora dar-lhe mais uma vez os parabéns pelo título, não sem certo constrangimento e, ao perceber que o roteiro do programa havia sido quebrado, recorreu a Alex Escobar com um ínfimo “Né?” que queria dizer tudo e nada ao mesmo tempo. O apresentador então inseriu um assunto já batido sobre a briga entre Flamengo e Sport sobre o campeonato de 1987, tentando ganhar tempo para que Angelim se recompusesse e pudesse dar um depoimento que fosse ali no ar. Ao final do seu comentário, Escobar deu mais uma vez parabéns ao Flamengo e enveredou por um papo sobre o assunto da briga de 87 com Glenda, um papo que parecia mais uma conversa paralela de escola quando a gente sabe que o mais importante está acontecendo em outro lugar.

Findada essa curva, o apresentador ainda quis saber: “Tá mais calmo, Angelim?”, e deu uma ligeira risada como quem ri de uma criança que não sabe como a contenção é importante no mundo adulto. Depois disso Glenda tentou “reanimar” o jogador falando do gol do título, feito por ele, seu único gol no campeonato, e Angelim se pronunciou baixinho: “Só um.”. Aí Glenda tentou preencher o vazio que a falta de discurso pronto de Angelim deixou com frases levianas de sociologia pisada e repisada: “É a trajetória de um brasileiro típico, do suor do dia a dia…”, como que sublinhando a história da vida de Ronaldo Angelim, uma história sobre a qual ele não deu um pio.

O fantástico na TV é que ela tem seus melhores momentos quando a coisa não acontece como queriam que acontecesse.

2 comentários:

Anônimo disse...

e aí foi de verdade, bem melhor!

mariabia disse...

O que me irrita é essa mania de sensacionalismo com a vida de qualquer um. Colocam uma musica triste de fundo, e repetem as mesmas palavras do faustao.